segunda-feira, 28 de julho de 2014

Direitos Económicos & Desportivos: Rodrigo Moreno


Uma das grandes vantagens da utilização de Terceiros Titulares de Propriedade (TTP) na aquisição de atletas, prende-se com a garantia de liquidez imediata por parte dos clubes. Tomando como exemplo: num determinado mês, um Clube investe 30M € num jogador, ficando com 100% dos seus direitos económicos e desportivos. Nesse mesmo mês, poderá vender 80% dos direitos económicos a um Fundo, encaixando de imediato 24M €. Desta forma, a rentabilidade económica na transação do atleta não precisa esperar por 2 ou 3 anos de rendimento desportivo e despertar a cobiça de outro clube; fica deste logo assegurada pela aquisição do TTP. Da perspetiva do TTP, compromete-se com um investimento inicial, esperando o lucro duma transferência futura. Quando esta se concretizar, não mais o clube tem um ganho significativo, visto já ter abdicado dos direitos económicos do atleta, cabendo ao fundo a maior fatia.

O fenómeno dos Fundos de Investimento teve origem há alguns anos atrás na América do Sul, sendo famosa a questão das transferências de Javier Mascherano e Carlos Tevez para o Corinthias, na altura detido a 59% pela  Media Sports Investment, de Kia Joorabchian. Recentemente na Europa, Portugal tem surgido como um dos principais impulsionadores na compra/venda de atletas com recurso a TTPs (vide Benfica Stars Fund, Doyen Sports, etc). 

A maioria das transferências que envolva TTPs acaba por gerar alguma controvérsia, pois na maioria das vezes os negócios não são corretamente comunicados nem compreendidos pelos adeptos. Os defensores deste tipo de negócio poderão argumentar que promove a competitividade entre clubes, garantindo a aquisição de atletas de maior qualidade e com risco partilhado. Outros poderão lançar duvidas na idoneidade do processo, onde uma entidade avança com um investimento especulativo sobre um atleta, transformando-o numa mera mercadoria que pode ser transacionada. Para além disto, impulsiona a perspetiva corporativista do futebol, algo que a FIFA e UEFA tentam combater em nome do fair-play financeiro.

Tendo em conta esta nova realidade no futebol mundial, hoje é apresentada uma clara distinção entre os Direitos Económicos e os Direitos Desportivos:

O Direito Desportivo representa o direito do clube sobre um atleta, definido por altura da ratificação do contrato que une o Atleta (Empregado) ao Clube (Empregador). Sobre este direito poderão assentar diversas obrigatoriedades, como é o caso da representatividade: o clube pode deter 100% dos direitos desportivos do atleta ou ceder parte dos mesmos na realização de um empréstimo a outro clube. 

O Direito Económico traduz-se no valor de mercado do atleta. A aquisição destes direitos ocorre aquando da negociação do passe do atleta, determinando o valor indemnizatório (valor da transferência) que um clube deve ressarcir outro, em caso de incumprimento do contrato estabelecido com o atleta.

É possível vender a totalidade dos direitos económicos e ainda manter os direitos desportivos. No entanto, um TTP não poderá ter os direitos desportivos de um jogador, visto não possuir a caracterização legal de um Clube.

Tendo por base esta introdução aos direitos económicos e desportivos, vamos fazer uma análise da situação de Rodrigo:

08-2012:
"O futebolista do Sport Lisboa e Benfica Rodrigo prolongou o vínculo com o Clube por mais quatro épocas desportivas, ou seja, até Junho de 2019." - Comunicado 

[NB]: Segundo comunicado oficial, os direitos desportivos de Rodrigo estarão válidos até Junho 2019.

01-2014:
"A Sport Lisboa e Benfica – Futebol, SAD, em cumprimento do disposto no artigo 248º do Código dos Valores Mobiliários, informa que chegou a acordo com a sociedade Meriton Capital Limited para a alienação de 100% dos direitos económicos dos atletas Rodrigo Moreno Machado (...) pelos montantes de € 30.000.000 (trinta milhões de euros)  (...)" - Conselho Administração Benfica SAD

[NB]: Indicação de venda de 100% dos direitos económicos por 30M €. Fica implicita a totalidade dos direitos desportivos ficarem associados ao Benfica, de acordo com contrato em vigor.

01-2014:
"No último dia do mês de Janeiro, mediante o prévio acordo dos detentores de 24% (...) dos direitos económicos dos atletas Rodrigo (...), a Benfica SAD alienou à Meriton Capital Limited, pelos montantes de 30 (...) milhões de euros, (...). Desta forma, as parcelas atribuíveis à Benfica SAD, representando 76% (...) dos direitos económicos do atleta Rodrigo (...), ascenderam a 22,8 (...) milhões de euros (...)." - Relatório Intercalar 3º Trimestre 2013/2014

[NB]: Após clarificação, conclui-se que a parcela da venda é de 22,8M €, visto que a Benfica SAD  tinha apenas 76% dos direitos económicos de Rodrigo.


07-2014:
"O avançado hispano-brasileiro Rodrigo, (...)  também chegou, esta quinta-feira, ao Seixal, onde o Benfica está a iniciar a nova época." - ABola

[NB]: Com os direitos desportivos em vigor, Rodrigo apresenta-se no clube para uma nova época.

07-2014:
"Valência anuncia contratação de Rodrigo ao Benfica por empréstimo.
(...) O Benfica mantinha os direitos desportivos porque os económicos tinham sido vendidos ao fundo de Peter Lim, que negoceia a compra do clube espanhol. O empréstimo é apenas uma burocracia para o futebolista possa incorporar de imediato os trabalhos da equipa de Nuno Espírito Santo." - MaisFutebol

Conclusão:

A cedência de direitos económicos não traduz uma obrigatoriedade na cedência dos desportivos, no mesmo período.

Desta forma, o Benfica obteve uma liquidez imediata em Janeiro, via parte económica, mas manteve o atleta nos seus quadros, via parte desportiva. No entanto,  a Meriton Capital Limited (MCL) teria todo o interesse no curto prazo  em colocar o atleta num clube onde pudesse promover o investimento efectuado. Visto o homem por detrás da MCL (Peter Lim) ser o mesmo que pretende adquirir o Valência, este tornou-se o destino mais que provável.

Visto a parte desportiva ainda pertencer ao Benfica, tornou-se natural a apresentação de Rodrigo aos trabalhos na pré-época. Até indicação em contrário, Rodrigo é funcionário do clube e como tal, sujeita-se a convocatórias & inscrições como os demais atletas. Poderemos também extrapolar que desde o término da época até ao passado dia 23-07 - quando foi oficializado o empréstimo ao Valência - o Benfica também suportou por inteiro a remuneração do atleta, o que faz sentido.

No meio disto tudo, falta-nos olhar um pouco para a situação de Peter Lim e MCL. Um negócio que há poucos meses estava praticamente fechado, tem sofrido vários revezes com a situação da reestruturação da divida do Valência. Estes constantes recuos têm limitado o investimento & decisões de Peter Lim naquilo que será o plantel da época 2014/2015. Contrariamente a André Gomes, Rodrigo apresenta outro conjunto de credenciais, não podendo ver limitada a sua colocação no Valência como a única hipótese. Lim esperará sempre um desfecho positivo, mas um empréstimo há-de ser sempre uma solução mais segura, caso não consiga comprar o Valência e tenha necessidade de re-alocar facilmente Rodrigo a outro clube. Não nego que o empréstimo possa servir para resolver burocracia, mas também dá mais flexibilidade para mover o jogador.

Sendo a solução de empréstimo ou venda a titulo definitivo, Rodrigo nunca passaria pela rota da Luz este ano. Um Fundo quer valorizar um atleta e tem noção de que aquilo que o Benfica tem para oferecer atingiu o seu máximo. Exigem-se campeonatos mais exigentes, com maiores fontes de receita e consequentemente, uma margem lucrativa maior quando chegar a altura do Fundo alienar o seu passe.



terça-feira, 22 de julho de 2014

Benfica & BES: Sempre de mão dada (Take II)


Pouco tempo depois do Take I, a comunicação social volta a apanhar todas as migalhinhas que caem da (já não tão) gorda carcaça do BES:

Fonte: Económico

Mega-fundo do BES investiu 67 milhões em obrigações do Benfica

O Espírito Santo Liquidez é um dos maiores credores da Benfica SAD. Este fundo, que gere 1,05 mil milhões de euros, tem 67,7 milhões de euros aplicados em duas linhas de obrigações da Benfica SAD, que atingem a maturidade em Outubro e Dezembro deste ano. Na linha que vence daqui a três meses, o fundo tem uma posição de 17,7 milhões. Na obrigação que vence no final do ano, a posição é de 50 milhões de euros, segundos dados disponibilizados pela CMVM referentes a final de Junho.
Estas duas linhas de obrigações foram emitidas pela Benfica SAD por colocação privada. O ES Liquidez detém a totalidade da linha de obrigações que vence em Dezembro e tem cerca de metade da emissão que atinge a maturidade em Outubro deste ano. No total, o fundo tem 6,5% do seu património aplicado nestes dois instrumentos de dívida. 
(...)
O Diário Económico questionou a SAD do Benfica sobre como prevê amortizar aquelas obrigações: se tem linhas de crédito asseguradas, acordo para fazer o ‘rollover' ou se terá de realizar mais-valias com passes de jogadores. Mas não obteve resposta até ao fecho desta edição.
(...)
A SAD dos encarnados tem estado activa no mercado de transferências. Dos negócios comunicados à CMVM, o clube encaixou 30,9 milhões de euros com a venda dos direitos económicos que detinha de Garay, Markovic e Oblak. Relativamente a compras, e apesar de alguns reforços, nenhuma aquisição foi comunicada ao regulador.

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O Diário Económico foi directo ao assunto: qual a politica de amortização do Clube? Vamos abordar as três soluções possíveis:

1º) Linhas de Crédito: A hipótese mais fácil poderá assentar num novo crédito. No entanto, vai-se criar o efeito bola neve (ainda mais do que já está), contraindo créditos atrás de créditos, para liquidar os anteriores. 

2º) Rollover do Empréstimo: De acordo com a atual situação do BES, não creio que a capacidade negocial de qualquer entidade devedora permita a extensão do período de pagamento, sem contrapartidas bastante penosas (agravamento da taxa de juro)... De qualquer forma o BES pretende assegurar aos investidores e demais clientes que o Grupo consegue rapidamente estabilizar a sua posição. Desta forma é preferível garantir a amortização no curto prazo, do que negociar um empréstimo "mais caro", esperançado apenas no lucro futuro.

3º) Alienação de passes: Já perdemos 5 atletas titulares (Oblak, Garay, Siqueira, Rodrigo e Markovic) e perfilam-se possivelmente mais dois (Gaitan & Enzo). Até ao momento amealharam-se 50-60M €, com todas as vendas. Se de facto a alienação de passes for a resposta, precisaremos vender mais alguém ou o valor cobre as exigências a curto prazo? Preciso ter em conta que o BES não é o único credor...


Conclusão: Venha o Diabo e escolha a melhor solução... Começamos a juntar algumas peças do porquê da sangria no plantel, perfilando-se o BES como principal responsável. Percebemos que estas obrigações acabam por condicionar a politica de contratações, forçando a procura em mercados mais baratos e limitados, que se traduzem em atletas de qualidade inferior. Evapora-se também a nossa esperança de adquirir valores experientes para colmatar (e serenar) posições chave do plantel, visto que boa parte do lucro obtido com as alienações irá ser canalizado para as amortizações. No entanto, havendo alguma artimanha financeira para ultrapassar o sufoco destas obrigações, concerteza o mercado de Inverno deverá equilibrar as contas, forçando-nos a mão para libertar 1 ou 2 atletas chave do plantel.

Aguardamos o Take III...



Pequenos sinais que valem muito


Terá Oblak pressentindo a falta de rumo e a instabilidade que se avizinha? Estará o balneário fragilizado e descrente na capacidade da equipa?


Estará Jesus a implorar à Direcção por reforços de qualidade? Poderá ele querer antecipadamente descartar responsabilidades futuras?

Muitos "ses" para os quais não temos resposta... A única coisa que posso concluir é que este tipo de desabafo para a imprensa em nada ajuda o clube.

E tudo isto vai agravar se...





Benfica & BES: Sempre de mão dada


Fonte: Económico

Até que ponto chega a exposição do BES a Benfica, Porto e Sporting


Baseado nos relatórios das três SAD relativos a 2012/13, António Samagaio traça uma estimativa de 215,2 milhões quanto à relação do Grupo com os três principais clubes.

A convulsão que tem afectado o BES atinge múltiplos sectores da sociedade e a exposição ao futebol não escapa. Professor de Economia no ISEG, António Samagaio deixa a sua apreciação ao assunto: "De acordo com a informação divulgada pelas SAD nos relatórios e contas de 2012/13, estimo que a exposição do Grupo BES ascendesse a 215,2 milhões de euros em 30 de Junho de 2013. Do total da dívida, 67,8% correspondia a financiamentos classificados em curto prazo, facto bem elucidativo da necessidade em manter o suporte financeiro do Grupo BES para que as três SAD possam continuar as suas operações", comenta. Desses 215,2 milhões, a maior parte (113,739 milhões) diziam respeito à SAD benfiquista, destacando-se os 72,5 milhões de dívida individualizada.

Aproveitando informações posteriores relacionadas com o tema, o docente acrescenta: "Mais recentemente, a relação entre a Porto SAD e o Grupo BES intensificou-se com o aumento do financiamento concedido em 26,7 milhões euros, contribuindo para que o banco detivesse uma quota de aproximadamente 52% da dívida classificada em empréstimos bancários e obrigacionistas a 31 de Março deste ano." 

Ainda assim, Samagaio deixa um alerta: "Estes valores da exposição do Grupo BES ao futebol estão certamente subavaliados, dado que não consideram a dívida das empresas que não estão incluídas no perímetro de consolidação das SAD (por exemplo, a dívida associada à construção do novo Estádio de Alvalade), bem como eventual financiamento concedido à Benfica SAD pela via do programa de papel comercial que está sujeito a um contrato de colocação e tomada firme por parte do BES e BESI."

O contexto das ligações

Numa perspectiva histórica, António Samagaio analisa o contexto em que têm sido exercidas as ligações do Grupo BES às SAD. "Nos últimos 10 anos, o Grupo BES tem sido um importantíssimo parceiro na actividade desenvolvida pelas empresas ligadas ao futebol dos três grandes (Benfica, Sporting e Porto). Essa relação foi materializada em operações diversas, desde os tradicionais empréstimos bancários nas suas diferentes modalidades, passando pela prestação de serviços relacionados com a organização, montagem e colocação de produtos financeiros (empréstimos obrigacionistas, VMOC, papel comercial), bem como gestão de fundos de investimento em jogadores, culminando com a tomada de posição no capital social da Benfica SAD."

Tudo somado, resta a confirmação de que os maiores clubes do futebol português têm assegurado a sua actividade com menos sobressaltos por causa do relacionamento com a banca, fulcral no financiamento.


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Este artigo não trás nada de novo ao que já se sabia: a dependência do Clube junto da Banca, para garantir o seu normal funcionamento. Funcionando à semelhança do Estado Português nos últimos anos, o Benfica empreendeu uma politica de sobre-endividamento, vivendo acima das suas possibilidades e completamente desfasado da realidade do pais. 

Anteriormente já abordei a questão do aumento salarial anual e essa é apenas a ponta do iceberg... Nunca poderei concordar com quem argumenta "Não te preocupes pois o activo é superior ao passivo!"... A que custo? Liquidando o clube em absoluto? Perspectiva completamente irreal... O importante seria ter ganhos anuais suficientes para controlar o passivo e gradualmente apostar na sua redução. Não faz sentido apostar na alienação completa de atletas, estruturas e afins, apenas para dizer "se eu quiser, eu pago ". Lembro as palavras de Luís Filipe Vieira na sua ultima entrevista, indicando que se "o Benfica fosse liquidado agora, pagaria todas as suas contas e ainda sobraria dinheiro para distribuir pelos sócios". Basicamente o Presidente considerou que é tão ou mais importante honrar as suas dividas à custa da própria existência do clube... Nenhum adepto concerteza se revê nestas palavras. As dividas deverão sim ser honradas, mas tendo por base politicas sustentáveis que não obriguem o clube regularmente a garantir empréstimos junto da Banca.

Porque não evitar o rebentar da bolha? 
Porque não evitar constantemente situações quase de insolvência?
Porque não procurar politicas de crescimento sustentável? 
Porque não apostar definitivamente na formação do clube?
Porque não rever a politica de empréstimos?  
Porque não criar patamares salariais mais baixos, indexando prémios à performance desportiva?
Porque não redefinir a estrutura do clube? 

Perguntas que dentro de 1/2 anos veremos respondidas... Só esperamos que não seja como resposta a uma grave crise financeira. 


Vejam o Take II...

Curtas na Taça de Honra

Destaques colectivos:

- Pouco tempo de trabalho e o conjunto já começa a olear algumas rotinas de jogo. Organização ofensiva mais deficitária, essencialmente pelo baixo nível no poder de decisão.  Benfica competente q.b., onde a maioria dos novos jogadores leu bem as jogadas e soube antecipar as transições rápidas do Sporting. No entanto, nota-se bem a falta de qualidade individual, em relação ao plantel do ano anterior. Destaque para os laterais, bastante disponíveis para atacar. 

Algumas notas individuais:

Luís Filipe: Ainda acima do peso, mas com boa margem de progressão. Um lateral "à Jesus" na disponibilidade física. Alguns tiques brasileiristas no que se refere ao posicionamento defensivo.

- Cardozo: Baixa física tremenda - em comparação com os colegas - e completamente dissociado daquilo que o jogo pedia. Funcionou sempre como um corpo estranho a Lima e não soube tornar-se referência de área como habitualmente consegue.

 -Talisca: De acordo com a minha análise inicial, Talisca poderia perfilar-se como avançado mais móvel, mas acabou por assumir a posição de um médio box-to-box. Perfila-se na nova "teimosia" de Jesus, com tudo o que de bom e mau dai possa vir. Aguardam-se mais jogos para confirmar um estatuto de craque...

- João Teixeira: O melhor jogador do torneio. Redutoramente, será associado ao lance do golo do Sporting e isso é o suficiente para o comum dos adeptos excomungá-lo nos próximos 3 meses... Olhando de forma abrangente, foi competitivo e raçudo, tendo uma preocupação desmesurada em oferecer linhas de passe aos colegas. Nota táctica bastante apurada, pois quando César e Jardel várias vezes saíram da sua posição em perseguição do adversário, o miúdo foi sempre fazer-lhes a compensação...Tal como disse aqui sobre o Bernardo Silva, apenas precisa de minutos. Espero que os tenha na equipa principal, mas se tal não for possível, que seja emprestado a um clube da 1ª liga. Equipa "B" já é pequena para ele.




sexta-feira, 18 de julho de 2014

Balanço da nova época: Adepto Optimista ou Péssimista?



Depois das recentes saídas de alguns atletas terem provocados alguns problemas cardio-vasculares ao mais sereno dos adeptos (confesso que tive alguns suores frios), resolvi respirar fundo e analisar isto com mais calma.

Aqui estão os jogadores com mais minutos disputados na época passada:


Como poderão reparar, estávamos razoavelmente bem preparados em todas as posições do campo. A 2ª linha é (era) relativamente equilibrada, tendo jogadores com qualidade aceitável para disputar todas as provas internas. A nível europeu sentimos algumas dificuldades, como vimos na Liga dos Campeões, mas na Liga Europa 90% dos elementos de 2ª linha deram uma resposta positiva (vide Rúben Amorim e Sulejmani). Sei que muitos poderão não concordar com algumas posições no campo (Ex: Djuricic a fazer a vez de Rodrigo), mas a verdade é que o nosso treinador muitas vezes fez adaptações (com sucesso) e noutras vezes o mesmo jogador suprimia duas necessidades (Ex: Markovic a Extremo ou a 2º Avançado). 

Poderíamos agora discutir que André Almeida rende mais no meio-campo que a lateral, ou que o lugar certo para Markovic é (era)  nas costas do ponta-lança. Todas observações validas, mas vamos aceitar que as adaptações efectuadas foram suficientes para ganhar 3 títulos internos e que não foram por elas que perdemos uma Liga Europa...

Resumindo: Esta equipa pôs-nos novamente em patamares de referência europeus.

Ao nível das saídas temos as seguintes (até ao momento):



Podemos concluir que:

Guarda-Redes: Oblak: saiu um dos pilares da 2ª volta do Campeonato e a muralha da Liga Europa. não vou tecer considerações relativamente ao homem, mas sim ao atleta. Um monstro na segurança que transmite e uma serenidade inquietante nos momentos chave da época. Se com esta idade é assim, imaginem dentro de 4/5 anos... Prefigura-se como o novo Buffon. Sem duvida uma das principais perdas.

Defesa: Perdemos o 2º central mais experiente do plantel (Garay) e Luisão não caminha para novo. As actuais soluções cobrirão as exigências em jogos das Taças, mas desde que o nível não seja muito elevado. Para as competições europeias,  Steven Vitória não tem as características que apreciamos em Garay: boa antecipação, forte jogo aéreo, coberturas inteligentes, etc. Em relação a Jardel, compensa em vontade o que falha tecnicamente, mas também não tem estofo de titular em jogos complicados. A juntar a isto o sucessor predestinado - Lisandro Lopez - em principio será novamente emprestado. Se isto acontecer, será uma clara demonstração de falta de confiança no jogador. Conhecendo bem Jesus, este não voltará a ser opção válida, ficando a rodar 1/2 anos por empréstimo até algum clube comprar o seu passe. Se for integrado na pré-época, terá condições para bater pé à 2ª linha instaurada, bem como ao novo reforço. O nosso excedente era constituído por Sidnei e Mitrovic, que nunca tiveram boa publicidade na Luz. Um já foi vendido e outro concerteza não irá integrar a pré-época.

Ao nível das alas, no lado direito continuamos sem um substituto à altura para Maxi Pereira. André Almeida sofre do mesmo problema que todos os jogadores polivalentes: quando adaptado acaba por não ser verdadeiramente bom a lateral e vai perdendo com o tempo as rotinas que o fizeram despontar no meio-campo. E continua a fraquejar psicologicamente nos jogos que acarretem uma pressão maior (a seu tempo André, a seu tempo...). No lado esquerdo, perdemos Siqueira para um clube com maior capacidade financeira, deixando-nos reféns de um mercado extremamente injusto no que toca a laterais-esquerdos (são tão raros hoje em dia, como as orquídeas douradas na Malásia). A polivalência de Sílvio (sempre fica?) acaba por não o tornar numa referência, mas acho-o extremamente competente a apoiar o processo ofensivo e a dar coberturas aos colegas. Sem lesões e usufruindo do trabalho que Jesus costuma fazer naquela posição, poderá ser uma agradável surpresa. 
Desabafo: Este é o problema de potenciar jogadores por empréstimo... Construímos a posição de lateral-esquerdo apenas com elementos emprestados, que a qualquer momento podem ser vendidos e/ou regressar ao clube de origem. Até ao fecho de mercado, a situação de Sílvio pode sofrer um volte-face e regressar ao Atlético, deixando-nos novamente a árdua tarefa de reconstruir a lateral-esquerda.

Meio-Campo: Perdemos Matic no Inverno e foi um "Ai Jesus" sobre como iríamos sobreviver a tão rude golpe no coração da nossa equipa... Poucos meses depois Fejsa mostrou que, não tendo as mesmas características e ser um trinco muito menos envolvido no processo ofensivo, consegue ser competente o suficiente para carburar e dar aos médios mais avançados as devidas coberturas. No entanto, não temos mais nenhum elemento com estas características no plantel. Sendo Rúben Amorim um trinco adaptado, e não estar a correr para novo, será necessário garantir mais um atleta que promova rotatividade com Fejsa. Em relação ao médio box-to-box, mantendo Enzo e Amorim, temos o "buraco" relativamente controlado. Em relação a André Gomes, perdemos um elemento de 2ª linha competente q.b., mas cuja ausência não se irá notar em demasia.

Ao nível das alas, perdemos Markovic que, mesmo não estando na posição que ele próprio é mais rentável, conseguimos tirar dividendos fantásticos. Jogador com muita classe, dos melhores que passou no nosso campeonato nos últimos anos. Começou como "apenas" mais um diamante em bruto e terminou a época a espalhar magia e a conseguir estar envolvidos em processos defensivos e ofensivos com sucesso. Estamos neste momento fragilizados ao nível de jogadores com bom poder de decisão, que façam o papel de "abre-latas" com equipas que joguem em blocos baixos.

Ataque: Perdemos Rodrigo, o "Ás" da mobilidade. Sempre muito criterioso no passe, jogando bem de costas para a baliza e um quebra-cabeças para as defesas contrárias, com as suas desmarcações ziguezagueantes. Quando não conseguimos referenciar um marcador de referência no Benfica, o "culpado" é Rodrigo: ele domina a arte de "servir e bem servir", transformando simples passes em oportunidades claras de golo, para os colegas mais recuados. Jesus viu isso e oleou a máquina para potenciar tudo aquilo que Rodrigo tinha para oferecer. No entanto, a rotatividade veio trazer alguns dissabores no lugar: Djuricic (que também vai ser dispensado) é criterioso no passe, mas falta-lhe mobilidade. Markovic rendeu nesta posição, mas deixou a descoberto a extrema-direita, onde jogava habitualmente.

Resumindo: Temos algum trabalho pela frente nas zonas nevrálgicas do terreno... 

Assumindo que todas as saídas resultaram da vontade do jogador ou da necessidade de encaixe do clube, o Benfica deve empreender uma politica de contratações diferente da quem tem efectuado nos últimos anos. Não estamos mais na fase de reforçar apenas uma ou duas posições chave, ou enveredar pela aposta em produto jovem estrangeiro. Precisamos de reforçar pelo menos 4 (!) áreas chave com atletas experientes e de elevada maturidade competitiva. A promoção de um jovem carece sempre do devido acompanhamento/entrosamento com elementos maduros e competitivos que suportam a espinha dorsal da equipa. Como vimos anteriormente essa estrutura ficou comprometida, essencialmente com as saídas de Oblak, Garay e Rodrigo. Do meu ponto de vista, duas destas três posições deverão ter um elemento experiente (e consequentemente aquisição mais cara) no plantel. As restantes lacunas poderão ser suprimidas com elementos das camadas jovens, ou então com aposta noutros mercados (não entrando em exageros na contratação de elementos de qualidade duvidosa...).

Vamos ver então se aposta está a evoluir nesse sentido:



Seta vermelha: Posição fragilizada de acordo com as opções disponíveis.
Seta azul: Posição estável de acordo com as opções disponíveis.
Seta verde: Posição bastante estável de acordo com as opções disponíveis.


Podemos concluir que:

Guarda-Redes: Antes de se lesionar, Artur já não dava mostras de ser um guarda-redes que sossegasse a sua defesa. Guarda-redes acomodado, inseguro na saída entre postes, posicionamentos incorrectos nas bolas paradas, remates  cuspidos para a frente em vez de ceder canto (recargas deram golo)... A situação de Artur não se colocou  mais em causa, visto que a maioria dos adeptos via em Oblak o guardião dos próximos anos. Agora que o esloveno se foi, não vejo com bons olhos Artur a recuperar a titularidade. Pelo perfil do jogador, antevejo que não se contentará por passar mais um ano no campo, optando por sair. 
Neste momento, o  Benfica necessita de um guardião experiente, calejado para competições europeias e que dê garantia de pontos. Sabendo que essa experiência custa dinheiro, é sem sombra de duvida a posição no campo que mais atenção merece, pois não sendo possível colmatar em condições a saída de Garay, pelo menos o guarda-redes tem de ser de topo. Em relação a Bruno Varela, vejo com bons olhos a sua incorporação no plantel principal; sempre foi competente na equipa "B" e tem larga margem de progressão. 

Defesa: Sendo Lisandro uma incógnita, César (21 anos) irá disputar a vaga pela posição de Garay com Jardel. Falta-lhe experiência competitiva (veio da 2ª Divisão brasileira) e vai sofrer o choque do futebol europeu. Mesmo que seja um "David Luiz" em perspetiva, não iremos concerteza tirar dividendos dele no primeiro ano. Como tal, um central experiente seria a melhor opção neste momento, mantendo César e Jardel como alternativas.

Nas alas, temos duas entradas novas para a posição de lateral-esquerdo: Benito e Djavan. Assumindo que a lesão de Sílvio só o deixa regressar em pleno em Setembro/Outubro, Jesus terá de fazer uma aposta de risco num novo titular. Teoricamente, Djavan (26 anos) leva vantagem, visto ter disputado uma época  bastante interessante na Académica. No entanto, é um jogador que nasce tarde para o futebol profissional, visto ter surgido em 2012 na 2ª Divisão Brasileira. Em relação a Benito (22 anos), é um jogador com as características que Jesus gosta: forte na disputa de bola, boa presença física no jogo aéreo e controla bem a profundidade. Teve um cheirinho de competições europeias, ao disputar uma eliminatória da Liga Europa pelo FZ Zurich. Apesar de não ser o claro favorito para a posição, vou esperar pelos jogos da pré-época para concluir mais.
Na ala direita, Luís Filipe é o semblante de um lateral possante e rápido. Bem trabalhado para as rotinas que Jesus exige, faço dele a minha aposta para chegar a titular até Dezembro. Isto permitira a André Almeida retomar a posição a meio-campo, onde seria um jogadores com características diferentes dos que já temos. A médio prazo, sou apologista de rodar João Cancelo em jogos de baixa dificuldade e/ou Taça da Liga.

Meio-Campo: Até ao momento, não temos referenciado nenhum jogador para reforçar o meio-campo  defensivo. Precisamos de um elemento que reveze com Fejsa e que seja dotado de maior versatilidade naquilo que Jesus lhe pedir - Fejsa é mais limitado na construção ofensiva. Caso Enzo e Rúben fiquem, a posição box-to-box está estabilizada. A curto-médio prazo, a presença de Bernardo Silva dar-nos-ia a possibilidade de dotar o meio-campo de maior criatividade e não apenas pulmão. Há semelhança de Markovic, é um dos jogadores mais virtuosos que temos nos quadros (Jogador Revelação da II Liga). Senhor de uma inteligência de jogo acima do normal, Bernardo apenas precisa do "pão para a boca" de qualquer atleta: minutos de jogo ao mais alto nível. Não partilho da opinião que os nº10 puros estão mortos e este miúdo (Senhor) permite a Jesus desdobrar a equipa num 4-4-2 diferente do que habitualmente é montado.

Na ala esquerda, Gaitan e Ola John garantem-me competitividade, capacidade de decisão e apoio no processo defensivo. Sendo um desequilibrador, Gaitan é sem duvida um dos elementos com mais mercado, mas acredito que sejamos capazes de o reter. Ola John peca pela seu fraco psicológico, mas ainda temos tempo para o recuperar - é um jogador que em máxima força e com ritmo competitivo, tem tudo para ser tão influente como Gaitan. Sulejmani, não sendo afectado por nenhuma lesão penso que terá o seu protagonismo, tanto na ala esquerda como direita, visto que já deu provas nos dois lados.
Na ala direita, temos Sálvio como referência principal, mas acredito que este ano Cavaleiro e Pizzi poderão ser suplentes de luxo. Esta é uma excelente oportunidade para ver como Jesus trabalha estes atletas.

Ataque: Temos as entradas de Victor Andrade e Talisca, cabendo aos dois a tarefa de substituir Rodrigo. Ambos são rotulados como craques (através do Youtube são todos...), mas vou ser moderado no quão relevantes poderão ser na equipa. Victor Andrade tarda em afirmar-se, depois de já ter sido rotulado como o "novo Neymar" (se bem que no Santos, tudo o que faz uma finta jeitosa, há-de ser o novo Neymar...). No Santos concretizou 3 golos em 31 jogos, deixando muita pouca margem para vê-lo como o elemento decisivo que a comunicação social pinta. Também convém lembrar que já passou  pelo Benfica aos 12 anos e não se deu bem, tendo regressado ao Brasil. Tenho um feeling que acabará por ser colocado na equipa "B", para ganhar alguma estaleca.
Em relação a Talisca, é caracterizado como esquerdino talentoso, podendo assumir o papel de médio avançado ou 2º avançado. Há semelhança de César, também vem da 2ª Liga Brasileira e padece da falta de ritmo a que as exigências do Benfica obrigam. Veremos como corre a pré-época aos dois.
Uma das novas referências de área é Derley, que chega com estatuto de 2º melhor marcador da 1ª Liga. Teve uma época bastante conseguida no Marítimo, sendo um elemento que guarda bem o jogo, tem qualidade de passe, boa mobilidade e uma técnica bastante aceitável. Tanto poderá discutir o lugar com Lima, como caso Victor Andrade ou Talisca não se "cheguem à frente", poderá assumir a antiga posição de Rodrigo.
Lima e Cardozo, sendo atletas completamente distintos, continuam a dar-nos um vasto leque de opções.

Conclusão: Após uma verdadeira sangria do plantel campeão, as contratações apresentadas não respondem à totalidade das necessidades: alguns elementos são desconhecedores da realidade Europeia (e em concreto da Portuguesa), outros que anteriormente não foram aposta do treinador e agora perfilam-se como as únicas escolhas possíveis; e algumas posições no campo carecem não de uma, mas duas opções credíveis. No entanto, vou relembrar o que se passou na época passada:

- "Oblak não valia nada, pois não tinha estaleca de equipa principal"
- "Veio um contentor de sérvios e esse tal Markovic é um flop"
- "O gajo como vem do Granada (Siqueira), não vale nada."
- "Bruno Cortez é uma nódoa!!" (PS: Pronto, ok, esta dou de barato... estavam certos! O tipo era mesmo mau!)

Basicamente, no inicio tudo parece mau, mas no final da época os flops viram craques. Temos de reconhecer que há trabalho bem feito para que ano após ano, possamos ter uma equipa minimamente competente. Claro que os adeptos esperam campeonatos todos os anos e esta sangria promove alguma histeria colectiva, mas até os primeiros jogos começarem, eu vou dar o beneficio da duvida.







segunda-feira, 14 de julho de 2014

APOSTA NA FORMAÇÃO (I) - Atualização

Após receber dezenas de mensagens de apoio e de esclarecimentos relativamente ao tema da Aposta na Formação, achei por bem fazer as devidas correcções à informação apresentada, nomeadamente ao nível de entradas e saídas.

No entanto, antes de passar aos gráficos atualizados, queria deixar um ponto bem claro: a linha editorial deste blog só tem um objectivo - expor temas relacionados com a actualidade do Benfica. Com certeza que muitos desses temas não serão apanágio de todos, mas de modo algum se poderão confundir com posições extremistas "Pró-Vieira" ou "Anti-Vieira". Há semelhança de qualquer outra pessoa, Luís Filipe Vieira não é um ser unidimensional, com tudo bom ou tudo mau. Como tal, reservo-me o direito de elogiar ou criticar, conforme o tema do artigo.

Apesar de estar a dar os primeiros passos na experiência de escrever sobre o nosso Clube, sou frequentador assíduo de outros blogs e sempre me incomodou a rapidez com que se passa da argumentação desportiva para o ataque pessoal. Da mesma maneira que houveram criticas construtivas nos e-mails que recebi, também houveram uns quantos que não souberam dissociar o tema "Formação" do tema "Vieira é Deus". Isto leva-me a concluir se o meu primeiro artigo fosse sobre o  trabalho estrutural feito na recuperação do clube, concerteza iria ter a fúria dos anti-Vieira nos comentários.

Portanto, como se diz na gíria: "Respeito é bonito e eu gosto". Pois quem se dá ao trabalho de me insultar tanto aqui, como em outras participações minhas noutros blogs, não poderá concerteza esperar que os seus comentários sejam publicados. Se optarem por criticar o meu trabalho, apresentando A+B o porquê dos seus argumentos, concerteza serão bem-vindos e concerteza farei o meu "mea culpa", caso tenha cometido algum erro de juízo.

Pegando na deixa do erro de juízo, vamos então voltar ao tema da formação. Deixo o meu Grande Obrigado a todos os Benfiquistas que sob a forma de comentário e e-mail, fizeram os devidos reparos ao nível das entradas & saídas e respectivo retorno financeiro.

Como tal, segue o quadro devidamente actualizado ao nível das entradas nos últimos 7 anos, para jogadores abaixo dos 21 anos:



Ao nível das saídas, pediram-me também que considere outros jogadores que tenham saído no mesmo período de tempo que as "jóias da coroa" anteriormente contabilizadas:


Nota: Não me foi possível apurar os valores exactos da venda de Lionel Carole e Filipe Menezes. Se alguém quiser contribuir com a informação devidamente fundamentada, pff indique-me.

Conclusão: Como nunca arranjei subterfúgios caso cometa algum lapso, deixo as seguintes notas:
  • Valor das Entradas: Passou de 61.5M € para 70.3M €; 
  • Valor das Saídas: Passou de 94.8M € para 117.4M €;

O valor das saídas poderá subir consideravelmente, aquando da concretização das contratações de Oblak e Markovic. Como até ao momento não existe comunicado oficial para estas vendas, optei por não os considerar.

No artigo inicial abordei o tema de duas perspectivas: sustentabilidade financeira a longo prazo e retorno desportivo (futuramente também poderei abordar esta mesma temática, mas da perspetiva da aquisição de direitos por parte da BSF). Do ponto de vista da aposta a longo prazo, volto a concluir que o valor das entradas é superior das saídas, como já tinha observado no 1º artigo. No entanto, continuo a manter a mesma opinião, relativamente ao aumento anual de 10% na massa salarial e de como o actual excedente de jovens estrangeiros poderá comprometer a politica futura da Direcção.

Da minha perspetiva não faz sentido contabilizar o atual valor do plantel jovem, porque não sendo o atleta vendido, a sua mais-valia traduzir-se-á apenas na performance desportiva ou na redução de custos salariais, caso o mesmo seja emprestado e o outro clube comparticipe uma parte do salário. 

quinta-feira, 10 de julho de 2014

Aposta na Formação (I) - Investimento internacional é uma boa solução?




Formação de jogadores. A que se propõe?

Por norma, descreve-se o papel da formação de um clube  como a capacidade de potenciar jovens atletas, que permitam futuramente a sua integração no panorama da alta competição. Talvez uma descrição demasiado leviana para o papel do clube na formação do individuo em todas as suas vertentes: física, psicológica, comportamental, etc. É suposto qualquer departamento de formação apostar em determinados princípios básicos, que elucidem o papel do jogador no fenómeno social que é o futebol e como a carreira do mesmo de ser evoluída até atingir um patamar profissional. 

Não sendo a explicação destes paradigmas o tema fulcral deste artigo, considero necessário levantar o véu sobre o real trabalho que um clube tem pela frente na formação dos atletas. Não sendo excepção, o Sport Lisboa e Benfica tem feito um trabalho bastante bom nos últimos anos. Muito se tem falado em formação, indicando-se o ‘futuro Benfica’ como o ‘antigo Sporting’, como principal referência na base do nosso Produto Nacional. No entanto, a nossa formação funciona de forma bipolar:

·         Lado Bom:
o  Estrutura do Caixa Futebol Campus, onde são acomodados os escalões da formação;
o   Reforço da cultura de vitórias;
o   Maior competitividade nas provas onde os jovens atletas estão envolvidos;

·         Lado Mau:
o   Integração quase inexistente dos jogadores provenientes da formação na equipa Principal;
Venda dos jovens atletas sem critério, desvalorizando o investimento efectuado nos escalões de formação;

Resumindo, existe todo um trabalho feito desde o escalão mais baixo até à equipa B, que vê o retorno futuro esbarrado numa parede... Isto como consequência das politicas seguidas pela Direcção do Sport Lisboa e Benfica. Atentem as palavra de Luís Filipe Vieira, no Relatório & Contas 12/13:

"Uma palavra especial dedicada à nossa formação. Agora, passados quase oito anos desde que foi inaugurado o Caixa Futebol Campus, começamos a ter resultados consistentes dessa aposta. Valores que já não são apenas uma promessa, mas antes uma certeza de futuro. Jogadores que marcam presença sistemática nas nossas selecções jovens e que seguramente serão apostas a médio prazo na nossa equipa profissional. Ter na primeira equipa jovens formados no Seixal é uma aposta estruturante e objectivo desta Administração."

Portanto, uma meia verdade.

Por norma em ano de conquistas, o benfiquismo em nós presente, tem tendência a exacerbar comportamentos demasiado emocionais, transformando o “Bom” em “Excelente”, o “Mediano” em “Bom” e o “Mau” em “Não te preocupes porque fomos campeões”. Felizmente (ou infelizmente) não partilho dessa visão romântica, deixando sempre espaço para discutir todos os temas que ajudem o nosso clube melhorar.

Como tal vamos fazer um exercício sobre a politica de contratações de jovens atletas, procurando perceber as reais razões para os nossos formandos não serem uma aposta concreta. Vamos ter por base:
  • Totalidade de contratações jovens abaixo dos 21 anos;
  • Tempo durante o qual o Caixa Futebol Campus está em funcionamento; 
Nota: O Caixa Futebol Campus foi inaugurado em 2006. Será descontado o primeiro ano, enquanto fase embrionária. A análise seguinte considera as apostas feitas a partir de 2007 para a frente.



(1) Idade do jogador à data da contratação.
(2) À data de 31-07 no ano de chegada ao Benfica, Witsel tinha 22 anos, dai não ser considerado na análise
(3) Jogadores sem valor definido correspondem a chegadas a custo zero ou resultantes de empréstimos.
(4) Reflete o somatório do investimento parcelado que foi feito com Sálvio

De grosso modo, os valores apresentados residem na informação apresentada via comunicação oficial do clube, CMVM, R&C e demais comunicação social. Os valores apresentados dizem respeito ao real valor investido pela Benfica SAD, sem recurso às parcelas existentes em Fundos de Investimento.

Em termos de nacionalidades, temos quinze representações:


Com especial incidência nos mercados Sul-Americanos e Europeus, em detrimento da aposta nacional.  


Resumindo:
Olhando para o investimento em 7 anos, temos uma real amostra do esforço concretizado pela Direcção: 61,5M € por jovens valores, dividido em média, por 9M€/ano. Algo que coloca o Benfica a rivalizar com os grandes clubes europeus, apesar de não ter conquistas regulares a suportar tal empreendimento.

Este excedente nas contratações de jovens valores simboliza um terço (em média) do nº total de novos jogadores a entrar anualmente:


Nota: As entradas de 2014 foram contabilizadas até 07-07-2014


No entanto, muitos benfiquistas poderão argumentar que as vendas de determinadas jóias da coroa serão suficientes para justificar a exorbitância dos valores investidos. A base deste argumento assenta nas vendas de David Luiz, Di Maria, Fábio Coentrão e Rodrigo. Relembro que apenas estão a ser considerados estes atletas, pois estão enquadrados no universo sub-21 que estamos a analisar:


Nota: À data da publicação do artigo, a saída de Markovic ainda não foi oficializada

Se compararmos o investimento anterior nos 38 atletas (61,5M€) com os valores da venda destas jóias (94,8M€), temos um saldo positivo de 33,3M€.  Alguns poderão dizer: “só essas quatro vendas cobrem todo o risco nos restantes investimentos em possíveis jovens prodígios nos últimos 7 anos!” Bem, a resposta é: Sim... e Não. Tal só seria totalmente verdade se:
  • As contratações jovens fossem 100% do investimento total anual em passes de atletas – facto já refutado anteriormente, visto que estas contratações apenas abrangem um terço do total de jogadores contratados. Este facto deixa-nos dois terços de investimento que não tiveram a devida cobertura, nem financeira, nem desportiva (a analisar num artigo futuro);
  • Se o Benfica não tivesse custos significativos em termos de folha salarial, onde os 38 atletas estão incluídos (vide quadro seguinte); 

Aumento regular dos custos com pessoal, desde o ano de 2007:




Mas esta realidade é conhecida pela própria Direcção, quando o R&C 12/13 espelha a seguinte frase:

"A rubrica de gastos com o pessoal atingiu os 50,4 milhões de euros (...) Esta variação é essencialmente explicada pelo aumento verificado na massa salarial do plantel de futebol."

Em sete anos, o custo com pessoal (para o qual a contribuição dos jogadores é decisiva) aumentou aproximadamente 25M €, com um crescimento anual médio de 10%. Serão então os proveitos de 33.3M € na venda de jovens atletas, o suficiente para suportar o constante aumento da massa salarial? Do meu ponto de vista, não.

Conclusão:
Do ponto de vista financeiro, o investimento efectuado é coberto pelo encaixe de jovens de elevado valor (David Luiz, Di Maria, Coentrão, Rodrigo). No entanto, deixa-nos muitas dúvidas ao nível da sustentabilidade futura desta politica, principalmente tendo em conta o aumento da Massa Salarial
Do ponto de vista quantitativo, se considerarmos o período de 7 anos, dos 38 atletas apenas tivemos 4 vendas significativas, deixando a nossa taxa de acerto nos 10% - considerando apenas a perspetiva do retorno financeiro, que a meu ver não pode nem deve ser dissociada do retorno desportivo. Tal comprova-se, pois no mesmo período de tempo, somaram-se apenas três campeonatos nacionais.
O aumento exponencial do investimento na prata da casa dos outros, fecha as portas a todos os futebolistas formados no clube. O Benfica não pode ser apenas uma barriga de aluguer para qualquer sul-americano com aspirações de jogar na Europa; não se pode tornar um mero entreposto de jogadores, onde as constantes entradas e saídas fragilizam a equipa.
A continuar por este caminho, deixaremos de ter um crescimento sustentável e quando estoirar a bolha das parcerias com Fundos & Empresários, veremos o nosso clube a passar por grandes dificuldades. Este facto tem sido atenuado por uma presença regular em competições europeias, servindo de areia para os olhos dos adeptos, que não têm real noção das politicas da Direcção, ou de como o modelo aplicado está totalmente desfasado daquilo que Luís Filipe Vieira afirma.
A maioria dos adeptos afirma que uma aposta integral na formação não trará títulos. Esta afirmação seria de todo correta, se nos últimos 11 anos, tivéssemos conquistado a hegemonia do futebol nacional, traduzida em pelo menos 7 campeonatos. Mas infelizmente não é essa a nossa atual situação... Se ao não dedicar a devida importância à integração dos produtos formados, conseguimos apenas 3 títulos em 11 anos, então como poderemos argumentar que estamos no caminho correto? Não será de todo descabido invocar os exemplos de Barcelona (16 da formação no plantel principal), Ajax (12) Arsenal (10) ou Real Madrid (7).

Como tal, o Benfica deverá fazer uma aposta mais contundente na única alternativa viável: o Produto Nacional.

O próximo artigo centrar-se-á na incapacidade do corpo técnico no aproveitamento desportivo dos atletas formados.


Nota: Após o contributo de vários Benfiquistas, os valores foram revistos neste artigo.



quarta-feira, 9 de julho de 2014

Bem Vindos!

Bem vindos a este espaço de discussão do nosso Glorioso Clube!

Nos últimos tempos tenho visto (com bastante orgulho) cada vez mais Benfiquistas a utilizaram as Redes Sociais e a Blogosfera para partilharem as suas ideias, receios, ambições, tudo em prol de um Benfica cada vez melhor. Como tal, espero que os conteúdos aqui partilhados ajudem cada vez mais o universo benfiquista a ficar unido em torno de uma causa: a melhoria constante do Nosso Clube!

NeoBenfica