sexta-feira, 18 de julho de 2014

Balanço da nova época: Adepto Optimista ou Péssimista?



Depois das recentes saídas de alguns atletas terem provocados alguns problemas cardio-vasculares ao mais sereno dos adeptos (confesso que tive alguns suores frios), resolvi respirar fundo e analisar isto com mais calma.

Aqui estão os jogadores com mais minutos disputados na época passada:


Como poderão reparar, estávamos razoavelmente bem preparados em todas as posições do campo. A 2ª linha é (era) relativamente equilibrada, tendo jogadores com qualidade aceitável para disputar todas as provas internas. A nível europeu sentimos algumas dificuldades, como vimos na Liga dos Campeões, mas na Liga Europa 90% dos elementos de 2ª linha deram uma resposta positiva (vide Rúben Amorim e Sulejmani). Sei que muitos poderão não concordar com algumas posições no campo (Ex: Djuricic a fazer a vez de Rodrigo), mas a verdade é que o nosso treinador muitas vezes fez adaptações (com sucesso) e noutras vezes o mesmo jogador suprimia duas necessidades (Ex: Markovic a Extremo ou a 2º Avançado). 

Poderíamos agora discutir que André Almeida rende mais no meio-campo que a lateral, ou que o lugar certo para Markovic é (era)  nas costas do ponta-lança. Todas observações validas, mas vamos aceitar que as adaptações efectuadas foram suficientes para ganhar 3 títulos internos e que não foram por elas que perdemos uma Liga Europa...

Resumindo: Esta equipa pôs-nos novamente em patamares de referência europeus.

Ao nível das saídas temos as seguintes (até ao momento):



Podemos concluir que:

Guarda-Redes: Oblak: saiu um dos pilares da 2ª volta do Campeonato e a muralha da Liga Europa. não vou tecer considerações relativamente ao homem, mas sim ao atleta. Um monstro na segurança que transmite e uma serenidade inquietante nos momentos chave da época. Se com esta idade é assim, imaginem dentro de 4/5 anos... Prefigura-se como o novo Buffon. Sem duvida uma das principais perdas.

Defesa: Perdemos o 2º central mais experiente do plantel (Garay) e Luisão não caminha para novo. As actuais soluções cobrirão as exigências em jogos das Taças, mas desde que o nível não seja muito elevado. Para as competições europeias,  Steven Vitória não tem as características que apreciamos em Garay: boa antecipação, forte jogo aéreo, coberturas inteligentes, etc. Em relação a Jardel, compensa em vontade o que falha tecnicamente, mas também não tem estofo de titular em jogos complicados. A juntar a isto o sucessor predestinado - Lisandro Lopez - em principio será novamente emprestado. Se isto acontecer, será uma clara demonstração de falta de confiança no jogador. Conhecendo bem Jesus, este não voltará a ser opção válida, ficando a rodar 1/2 anos por empréstimo até algum clube comprar o seu passe. Se for integrado na pré-época, terá condições para bater pé à 2ª linha instaurada, bem como ao novo reforço. O nosso excedente era constituído por Sidnei e Mitrovic, que nunca tiveram boa publicidade na Luz. Um já foi vendido e outro concerteza não irá integrar a pré-época.

Ao nível das alas, no lado direito continuamos sem um substituto à altura para Maxi Pereira. André Almeida sofre do mesmo problema que todos os jogadores polivalentes: quando adaptado acaba por não ser verdadeiramente bom a lateral e vai perdendo com o tempo as rotinas que o fizeram despontar no meio-campo. E continua a fraquejar psicologicamente nos jogos que acarretem uma pressão maior (a seu tempo André, a seu tempo...). No lado esquerdo, perdemos Siqueira para um clube com maior capacidade financeira, deixando-nos reféns de um mercado extremamente injusto no que toca a laterais-esquerdos (são tão raros hoje em dia, como as orquídeas douradas na Malásia). A polivalência de Sílvio (sempre fica?) acaba por não o tornar numa referência, mas acho-o extremamente competente a apoiar o processo ofensivo e a dar coberturas aos colegas. Sem lesões e usufruindo do trabalho que Jesus costuma fazer naquela posição, poderá ser uma agradável surpresa. 
Desabafo: Este é o problema de potenciar jogadores por empréstimo... Construímos a posição de lateral-esquerdo apenas com elementos emprestados, que a qualquer momento podem ser vendidos e/ou regressar ao clube de origem. Até ao fecho de mercado, a situação de Sílvio pode sofrer um volte-face e regressar ao Atlético, deixando-nos novamente a árdua tarefa de reconstruir a lateral-esquerda.

Meio-Campo: Perdemos Matic no Inverno e foi um "Ai Jesus" sobre como iríamos sobreviver a tão rude golpe no coração da nossa equipa... Poucos meses depois Fejsa mostrou que, não tendo as mesmas características e ser um trinco muito menos envolvido no processo ofensivo, consegue ser competente o suficiente para carburar e dar aos médios mais avançados as devidas coberturas. No entanto, não temos mais nenhum elemento com estas características no plantel. Sendo Rúben Amorim um trinco adaptado, e não estar a correr para novo, será necessário garantir mais um atleta que promova rotatividade com Fejsa. Em relação ao médio box-to-box, mantendo Enzo e Amorim, temos o "buraco" relativamente controlado. Em relação a André Gomes, perdemos um elemento de 2ª linha competente q.b., mas cuja ausência não se irá notar em demasia.

Ao nível das alas, perdemos Markovic que, mesmo não estando na posição que ele próprio é mais rentável, conseguimos tirar dividendos fantásticos. Jogador com muita classe, dos melhores que passou no nosso campeonato nos últimos anos. Começou como "apenas" mais um diamante em bruto e terminou a época a espalhar magia e a conseguir estar envolvidos em processos defensivos e ofensivos com sucesso. Estamos neste momento fragilizados ao nível de jogadores com bom poder de decisão, que façam o papel de "abre-latas" com equipas que joguem em blocos baixos.

Ataque: Perdemos Rodrigo, o "Ás" da mobilidade. Sempre muito criterioso no passe, jogando bem de costas para a baliza e um quebra-cabeças para as defesas contrárias, com as suas desmarcações ziguezagueantes. Quando não conseguimos referenciar um marcador de referência no Benfica, o "culpado" é Rodrigo: ele domina a arte de "servir e bem servir", transformando simples passes em oportunidades claras de golo, para os colegas mais recuados. Jesus viu isso e oleou a máquina para potenciar tudo aquilo que Rodrigo tinha para oferecer. No entanto, a rotatividade veio trazer alguns dissabores no lugar: Djuricic (que também vai ser dispensado) é criterioso no passe, mas falta-lhe mobilidade. Markovic rendeu nesta posição, mas deixou a descoberto a extrema-direita, onde jogava habitualmente.

Resumindo: Temos algum trabalho pela frente nas zonas nevrálgicas do terreno... 

Assumindo que todas as saídas resultaram da vontade do jogador ou da necessidade de encaixe do clube, o Benfica deve empreender uma politica de contratações diferente da quem tem efectuado nos últimos anos. Não estamos mais na fase de reforçar apenas uma ou duas posições chave, ou enveredar pela aposta em produto jovem estrangeiro. Precisamos de reforçar pelo menos 4 (!) áreas chave com atletas experientes e de elevada maturidade competitiva. A promoção de um jovem carece sempre do devido acompanhamento/entrosamento com elementos maduros e competitivos que suportam a espinha dorsal da equipa. Como vimos anteriormente essa estrutura ficou comprometida, essencialmente com as saídas de Oblak, Garay e Rodrigo. Do meu ponto de vista, duas destas três posições deverão ter um elemento experiente (e consequentemente aquisição mais cara) no plantel. As restantes lacunas poderão ser suprimidas com elementos das camadas jovens, ou então com aposta noutros mercados (não entrando em exageros na contratação de elementos de qualidade duvidosa...).

Vamos ver então se aposta está a evoluir nesse sentido:



Seta vermelha: Posição fragilizada de acordo com as opções disponíveis.
Seta azul: Posição estável de acordo com as opções disponíveis.
Seta verde: Posição bastante estável de acordo com as opções disponíveis.


Podemos concluir que:

Guarda-Redes: Antes de se lesionar, Artur já não dava mostras de ser um guarda-redes que sossegasse a sua defesa. Guarda-redes acomodado, inseguro na saída entre postes, posicionamentos incorrectos nas bolas paradas, remates  cuspidos para a frente em vez de ceder canto (recargas deram golo)... A situação de Artur não se colocou  mais em causa, visto que a maioria dos adeptos via em Oblak o guardião dos próximos anos. Agora que o esloveno se foi, não vejo com bons olhos Artur a recuperar a titularidade. Pelo perfil do jogador, antevejo que não se contentará por passar mais um ano no campo, optando por sair. 
Neste momento, o  Benfica necessita de um guardião experiente, calejado para competições europeias e que dê garantia de pontos. Sabendo que essa experiência custa dinheiro, é sem sombra de duvida a posição no campo que mais atenção merece, pois não sendo possível colmatar em condições a saída de Garay, pelo menos o guarda-redes tem de ser de topo. Em relação a Bruno Varela, vejo com bons olhos a sua incorporação no plantel principal; sempre foi competente na equipa "B" e tem larga margem de progressão. 

Defesa: Sendo Lisandro uma incógnita, César (21 anos) irá disputar a vaga pela posição de Garay com Jardel. Falta-lhe experiência competitiva (veio da 2ª Divisão brasileira) e vai sofrer o choque do futebol europeu. Mesmo que seja um "David Luiz" em perspetiva, não iremos concerteza tirar dividendos dele no primeiro ano. Como tal, um central experiente seria a melhor opção neste momento, mantendo César e Jardel como alternativas.

Nas alas, temos duas entradas novas para a posição de lateral-esquerdo: Benito e Djavan. Assumindo que a lesão de Sílvio só o deixa regressar em pleno em Setembro/Outubro, Jesus terá de fazer uma aposta de risco num novo titular. Teoricamente, Djavan (26 anos) leva vantagem, visto ter disputado uma época  bastante interessante na Académica. No entanto, é um jogador que nasce tarde para o futebol profissional, visto ter surgido em 2012 na 2ª Divisão Brasileira. Em relação a Benito (22 anos), é um jogador com as características que Jesus gosta: forte na disputa de bola, boa presença física no jogo aéreo e controla bem a profundidade. Teve um cheirinho de competições europeias, ao disputar uma eliminatória da Liga Europa pelo FZ Zurich. Apesar de não ser o claro favorito para a posição, vou esperar pelos jogos da pré-época para concluir mais.
Na ala direita, Luís Filipe é o semblante de um lateral possante e rápido. Bem trabalhado para as rotinas que Jesus exige, faço dele a minha aposta para chegar a titular até Dezembro. Isto permitira a André Almeida retomar a posição a meio-campo, onde seria um jogadores com características diferentes dos que já temos. A médio prazo, sou apologista de rodar João Cancelo em jogos de baixa dificuldade e/ou Taça da Liga.

Meio-Campo: Até ao momento, não temos referenciado nenhum jogador para reforçar o meio-campo  defensivo. Precisamos de um elemento que reveze com Fejsa e que seja dotado de maior versatilidade naquilo que Jesus lhe pedir - Fejsa é mais limitado na construção ofensiva. Caso Enzo e Rúben fiquem, a posição box-to-box está estabilizada. A curto-médio prazo, a presença de Bernardo Silva dar-nos-ia a possibilidade de dotar o meio-campo de maior criatividade e não apenas pulmão. Há semelhança de Markovic, é um dos jogadores mais virtuosos que temos nos quadros (Jogador Revelação da II Liga). Senhor de uma inteligência de jogo acima do normal, Bernardo apenas precisa do "pão para a boca" de qualquer atleta: minutos de jogo ao mais alto nível. Não partilho da opinião que os nº10 puros estão mortos e este miúdo (Senhor) permite a Jesus desdobrar a equipa num 4-4-2 diferente do que habitualmente é montado.

Na ala esquerda, Gaitan e Ola John garantem-me competitividade, capacidade de decisão e apoio no processo defensivo. Sendo um desequilibrador, Gaitan é sem duvida um dos elementos com mais mercado, mas acredito que sejamos capazes de o reter. Ola John peca pela seu fraco psicológico, mas ainda temos tempo para o recuperar - é um jogador que em máxima força e com ritmo competitivo, tem tudo para ser tão influente como Gaitan. Sulejmani, não sendo afectado por nenhuma lesão penso que terá o seu protagonismo, tanto na ala esquerda como direita, visto que já deu provas nos dois lados.
Na ala direita, temos Sálvio como referência principal, mas acredito que este ano Cavaleiro e Pizzi poderão ser suplentes de luxo. Esta é uma excelente oportunidade para ver como Jesus trabalha estes atletas.

Ataque: Temos as entradas de Victor Andrade e Talisca, cabendo aos dois a tarefa de substituir Rodrigo. Ambos são rotulados como craques (através do Youtube são todos...), mas vou ser moderado no quão relevantes poderão ser na equipa. Victor Andrade tarda em afirmar-se, depois de já ter sido rotulado como o "novo Neymar" (se bem que no Santos, tudo o que faz uma finta jeitosa, há-de ser o novo Neymar...). No Santos concretizou 3 golos em 31 jogos, deixando muita pouca margem para vê-lo como o elemento decisivo que a comunicação social pinta. Também convém lembrar que já passou  pelo Benfica aos 12 anos e não se deu bem, tendo regressado ao Brasil. Tenho um feeling que acabará por ser colocado na equipa "B", para ganhar alguma estaleca.
Em relação a Talisca, é caracterizado como esquerdino talentoso, podendo assumir o papel de médio avançado ou 2º avançado. Há semelhança de César, também vem da 2ª Liga Brasileira e padece da falta de ritmo a que as exigências do Benfica obrigam. Veremos como corre a pré-época aos dois.
Uma das novas referências de área é Derley, que chega com estatuto de 2º melhor marcador da 1ª Liga. Teve uma época bastante conseguida no Marítimo, sendo um elemento que guarda bem o jogo, tem qualidade de passe, boa mobilidade e uma técnica bastante aceitável. Tanto poderá discutir o lugar com Lima, como caso Victor Andrade ou Talisca não se "cheguem à frente", poderá assumir a antiga posição de Rodrigo.
Lima e Cardozo, sendo atletas completamente distintos, continuam a dar-nos um vasto leque de opções.

Conclusão: Após uma verdadeira sangria do plantel campeão, as contratações apresentadas não respondem à totalidade das necessidades: alguns elementos são desconhecedores da realidade Europeia (e em concreto da Portuguesa), outros que anteriormente não foram aposta do treinador e agora perfilam-se como as únicas escolhas possíveis; e algumas posições no campo carecem não de uma, mas duas opções credíveis. No entanto, vou relembrar o que se passou na época passada:

- "Oblak não valia nada, pois não tinha estaleca de equipa principal"
- "Veio um contentor de sérvios e esse tal Markovic é um flop"
- "O gajo como vem do Granada (Siqueira), não vale nada."
- "Bruno Cortez é uma nódoa!!" (PS: Pronto, ok, esta dou de barato... estavam certos! O tipo era mesmo mau!)

Basicamente, no inicio tudo parece mau, mas no final da época os flops viram craques. Temos de reconhecer que há trabalho bem feito para que ano após ano, possamos ter uma equipa minimamente competente. Claro que os adeptos esperam campeonatos todos os anos e esta sangria promove alguma histeria colectiva, mas até os primeiros jogos começarem, eu vou dar o beneficio da duvida.







3 comentários :

  1. Boas neo reflexões e não há dúvida,Benfica é o Benfica, é muita forte e tem que ser ;)
    ...espero... paro, escuto, e olho ...se me permitires,
    Benfica Todos Tempos

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  2. Nesta altura ainda é cedo para grandes analises. A actual condição física afecta a minha observação ... individualmente há jogadores em patamares diferentes. Quem aparece na pré época com ritmo consegue logo outro tipo de exibição.
    O adversário também está a anos luz da praia da época passada...aqui para o nosso quintal a qualidade voltou a baixar, fruto das saídas para outros campeonatos. Mas gostei imenso da oportunidade dada ao Pinto e ao Ben10 . Tenho grandes ilusões nestes 2 atletas. Vamos lá ver se é para continuarem, evitando as "chibatadas dos egos". Domingo há mais...
    B T T

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